Uma fábula moderna para Co-Dependentes…
O Capitão que Perdeu o Norte por Jaime Machado
Sempre tinha sido sua ambição navegar pelos mares, conhecer terras e costumes distantes, livre de imposições aos seus sentidos, com o coração aberto para a aventura que é a vida. Isto pensava o Capitão, desde que era pequeno.
Um dia o jovem Capitão foi atacado na sua ingenuidade por maliciosos piratas que o aprisionaram no seu próprio navio por tempos sem conta. O capitão sofreu nas mãos dos seus captores mas lá foi sobrevivendo como pode.
Um belo dia conseguiu libertar-se, expulsar os piratas do seu barco e fugir. Que contente estava o Capitão por estar livre dos piratas que negligenciou o facto de os piratas lhe terem roubado três coisas: o mapa, a bússola e o astrolábio.
Apesar de livre o Capitão passou a navegar pelo oceano sem paixão, sempre com medo de ser atacado novamente por piratas, fugindo sempre ao menor sinal de perigo. Fugindo da vida. A sua atenção centrada no medo, levava o Capitão a lugares onde não queria ir nem desejava estar. A vida era cinzenta.
O que se passou era que ao ter ficado sem o mapa, o Capitão esqueceu os seus sonhos, os lugares que ambicionava visitar, a motivação que o fazia viver e aquecer o seu coração.
Depois, também sem a bússola era impossível escolher e confiar numa direção que o levasse a satisfazer os seus antigos sonhos e desejos. Sem a bússola o Capitão era incapaz de decidir se a sua rota estava certa ou não. A indecisão instalou-se no seu coração.
Por último, sem o astrolábio o Capitão tinha perdido o norte da “sua estrela”, o sentir do seu valor único, a sensação de ligação da sua viagem ao todo, o sentir-se transcendentemente acompanhado. No fundo, o sentido último da sua viagem existencial.
Uma dia, uma violenta tempestade levou-o a uma ilha remota habitada por um eremita de barba branca que o acolheu e tratou dele. Com o eremita o Capitão redescobria que o seu mapa, bússola e astrolábio não tinham sido roubados pelos piratas mas estavam sim esquecidos numa velha arca no fundo do seu barco.
O Capitão não queria acreditar de feliz que estava. Os antigos sonhos começaram a tomar lugar no presente; começou a sentir novamente e a confiar em qual o rumo adequado; depois, a “sua estrela” tornou-se novamente presente na sua vida, dando sentido à sua viagem.
Este novo Capitão era diferente do Capitão que iniciou a viagem, era mais sábio, compassivo, presente e forte, pronto e desejoso de novas aventuras pelo oceano da vida.
Como os “Piratas” criam Co-Dependentes
Para quem percebeu a história não precisa de ler as pistas que dou a seguir. Para quem ficou com algumas perguntas é capaz de ser útil ler a chave seguinte que descodifica a história.
Chave de Descodificação
Podes substituir as seguintes palavras na história pelas que estão abaixo e perceber o significado mais profundo da mesma
- Capitão – és tu próprio
- Piratas – pessoa narcisista
- Mapa – o que queres ser, aonde queres ir, os teus sonhos e ambições
- Bússola – a tua ligação aos teus sentimentos e emoções; saber o que estás a sentir, confiança em ti próprio
- Astrolábio – os teus valores pessoais e espirituais para a vida, a tua relação com o transcendente
- Eremita – psicoterapeuta
Deixo aqui uma citação do Moby-Dick que adoro:
“Quanto a mim, sou atormentado com uma coceira eterna por coisas remotas. Adoro navegar em mares proibidos e desembarcar em costas bárbaras. ”
Herman Melville, citação de Moby-Dick
Deixa o teu comentário abaixo, fala da tua viagem, como é a tua história.
Rita diz
O artigo , traduz a realidade, voltar a ter sonhos depois de se libertar do narcisista, demora tempo mas é possível, com ajuda do ermita do psicólogo especializado, o trajeto fica menos doloroso
Jaime Machado diz
Muita luz e novos sonhos para a tua viagem Rita.