Deparei com um post tipo New Age dizia o seguinte “raiva é punir a si mesmo pelo erro de alguém“. Há muitas pessoas que acreditam nisto sem terem pensado um pouco sobre isto.
Vejamos o que é a raiva. A raiva é um das nossas emoções, como a alegria, tristeza, etc. Todas as emoções são naturais e têm um propósito. Perguntas então qual é o propósito da raiva?
Bem, sentimos raiva sempre que os nossos limites pessoais não estão a ser respeitados. É um sinal de defesa do nosso organismo para tomar consciência de que algo ou alguém não tem os nossos melhores interesses em mente.
Por exemplo, sentimos raiva quando alguém é autoritário connosco e quer restringir as nossas liberdades de ação e expressão, quando alguém quer controlar a nossa expressão natural de ser, quando alguém impõe juízos de valor sobre nós de modo injusto, quando alguém nos quer calar e silenciar as nossas opiniões, quando não somos livres para decidir por nós.
Porque a raiva é má?
Se isto é assim porque há tantas pessoas que acham a raiva uma coisa má? Provavelmente há aqui uma história de aprendizagem no passado que as fez pensar assim.
Da minha experiência como psicoterapeuta, tenho verificado que muitas das pessoas abusadas e traumatizadas por narcisistas, especialmente filhos e filhas adultos de pais narcisistas, foram educadas para reprimir as suas emoções. Elas foram condicionadas a acharem certas emoções como más, negativas. No fundo a negarem uma parte de si próprias. Isto cria uma guerra interna contra uma parte de ti, as tuas emoções, que neste caso é a emoção da raiva. Mas como isto aconteceu?
Os pais narcisistas e a repressão da raiva
Os narcisistas não gostam de ser contrariados, não gostam de oposição venha ela de onde vier, e os pais narcisistas não são excepção. Então o que eles fizeram? Foram usar o seu poder para castigar, humilhar e repreender a criança como se ela fosse má, ruim, que não presta sempre que faz birra, quando diz NÃO, quando se opõe aos desejos dos pais narcisistas. A criança, sem defesa, e porque no fundo ama os pais, vai abdicar de ser ela mesma, vai repudiar algo natural em si, a raiva, para agradar, para obter uma réstia de amor condicional dos pais (o amor falso).
Ao rejeitar a raiva a criança vai deitar fora o seu sinal de alerta biológico contra possíveis abusos em relação a si própria. A criança torna-se uma “boneco” que se submete a todos os caprichos dos pais narcisistas sem qualquer reação emocional. É claro que isto convêm muito aos pais narcisista. Os pais narcisistas chamam a este processo de submissão e destruição da vontade da criança, ter um filho ou filha bem educado/a.
A raiva é o teu sistema de alarme
Esta criança cresce desligada do seu sistema de alarme, a raiva, e é menos capaz de se defender, de ripostar, de dizer NÃO.. Esta criança cresce e torna-se um alvo para outras pessoas abusivas. Mais tarde quando cresce e já adulta, ela vai ter tendência a cair em relações abusivas porque foi isso a que foi habituada e foi a isso que lhe foi vendido como amor quando criança.
Esta criança depois adulta vai sentir vergonha ao sentir raiva, vai mesmo tentar reprimir essa emoção como má, pois foi assim que foi condicionada. Estes adultos têm muita dificuldade em assumir e honrar as suas emoções e assim continuam a navegar na vida sem sinal de alarme e perguntando a si próprios porque continuam a cair em relações tóxicas sem perceber como isso acontece.
Acordar e permitir sentir a raiva
Até o dia em que a ficha caí e a pessoa começa perceber e a aceitar que foi condicionada, que aquela atitude em relação a si própria não a ajuda. É também neste momento que a pessoa começa a dar conta e a aceitar que foi vítima de abuso e trauma narcisista. Quando isto acontece é muito comum toda a raiva que foi reprimida durante anos e anos venha á superfície. A pessoa permite-se sentir a raiva que andou consigo durante todos esses anos, e agora essa raiva tem um alvo, o/a narcisista que a abusou e traumatizou.
Lidar com a raiva
A guerra interna que a pessoa carregava dentro de si, negando e reprimindo a raiva, acabou. Agora começou uma nova guerra, a raiva tem um alvo, o/a narcisista, e a pessoa quer retribuição, quer justiça, quer vingança. Isto é perfeitamente natural e acontece na maior parte dos casos, só que não vai ajudar a pessoa.
A raiva dirigida ao narcisista não vai gerar retribuição isto porque o/a narcisista nunca vai assumir responsabilidade pelo que fez, não vai sentir-se culpado (eles não sentem culpa), não vai mudar, e vocês nunca irá obter desculpas sinceras.
A raiva vivida assim consome muitas vítimas, torna-as amargas, desconfiadas e vingativas. Aqui sim a raiva volta-se contra a vítima e mina a sua alegria e vontade de viver, continuando focada no narcisista. Contudo a energia da raiva poder tornar-se uma força para o bem, para a recuperação da vítima.
Usando a raiva para a recuperação
Redirecionando a energia da raiva do/a narcisista que ficou no passado para a recuperação e para o futuro da vítima é a melhor coisa que pode ser feita e dá bons resultados.
Em vez de a pessoa continuar agarrada ao passado, agora a pessoa está focada no futuro, em melhor-se a si própria e a sua vida.
Como recalibrar a nossa bússola das emoções?
Neste momento da viagem de retorno a si mesma, é bom ter ajuda profissional desprogramar esses anos de endoutrinação, de atitudes que não te ajudam, e finalmente começar a confiar nas tuas emoções naturais e que são sinais indicadores das coisas que se estão a passar nas tua vida. Clica neste link para marcar sessão de terapia comigo. O fazer as pazes com as emoções abre também a porta para que a nossa intuições comecem a funcionar mais ativamente na nossas vidas.
As emoções são como uma bússola interna que nos ajuda a navegar na vida. Sem a bússola das emoções o nosso caminho não vai em direção aquilo que somos. Quando começamos a estar atentos e deixamos a bússola das nossas emoções funcionar, coisas maravilhosas podem voltar a acontecer.
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